Casamento: uma escolha certa pra quem joga frescobol...
Gente!
Meu marido me convidou a jogar frescobol com ele a vida inteira. E eu aceitei! De vez em quando a bola vai meio tortinha, mas ele manda de volta toda bonitinha. Ele é minha base, preciso fazê-lo feliz pra que eu seja feliz... e assim vivemos: jogando frescobol.
Claro que acima estava eu a brincar com as palavras... brincadeira essa já feita por Rubem Alves em sua crônica Tênis X Frescobol (no livro O Retorno e Terno - pág.51). Há um site (www.rubemalves.com.br) onde se lê muitos textos de Rubem Alves - espero sinceramente que sejam mesmo dele, já que na net nem tudo é verdade.
Mesmo assim... que belo texto, que vivência demonstra seu autor em tais linhas.
Leia e depois me diga se estás a jogar tênis ou frescobol com teu companheiro:
Explico-me. Para começar, uma afirmação de Nietzsche, com a qual concordo inteiramente. Dizia ele: ‘Ao pensar sobre a possibilidade do casamento cada um deveria se fazer a seguinte pergunta: ‘Você crê que seria capaz de conversar com prazer com esta pessoa até a sua velhice?\' Tudo o mais no casamento é transitório, mas as relações que desafiam o tempo são aquelas construídas sobre a arte de conversar.’
Xerazade sabia disso. Sabia que os casamentos baseados nos prazeres da cama são sempre decapitados pela manhã, terminam em separação, pois os prazeres do sexo se esgotam rapidamente, terminam na morte, como no filme O império dos sentidos. Por isso, quando o sexo já estava morto na cama, e o amor não mais se podia dizer através dele, ela o ressuscitava pela magia da palavra: começava uma longa conversa, conversa sem fim, que deveria durar mil e uma noites. O sultão se calava e escutava as suas palavras como se fossem música. A música dos sons ou da palavra - é a sexualidade sob a forma da eternidade: é o amor que ressuscita sempre, depois de morrer. Há os carinhos que se fazem com o corpo e há os carinhos que se fazem com as palavras. E contrariamente ao que pensam os amantes inexperientes, fazer carinho com as palavras não é ficar repetindo o tempo todo: ‘Eu te amo, eu te amo...’ Barthes advertia: ‘Passada a primeira confissão, ‘eu te amo\' não quer dizer mais nada.’ É na conversa que o nosso verdadeiro corpo se mostra, não em sua nudez anatômica, mas em sua nudez poética. Recordo a sabedoria de Adélia Prado: ‘Erótica é a alma.’
O tênis é um jogo feroz. O seu objetivo é derrotar o adversário. E a sua derrota se revela no seu erro: o outro foi incapaz de devolver a bola. Joga-se tênis para fazer o outro errar. O bom jogador é aquele que tem a exata noção do ponto fraco do seu adversário, e é justamente para aí que ele vai dirigir a sua cortada - palavra muito sugestiva, que indica o seu objetivo sádico, que é o de cortar, interromper, derrotar. O prazer do tênis se encontra, portanto, justamente no momento em que o jogo não pode mais continuar porque o adversário foi colocado fora de jogo. Termina sempre com a alegria de um e a tristeza de outro.
O frescobol se parece muito com o tênis: dois jogadores, duas raquetes e uma bola. Só que, para o jogo ser bom, é preciso que nenhum dos dois perca. Se a bola veio meio torta, a gente sabe que não foi de propósito e faz o maior esforço do mundo para devolvê-la gostosa, no lugar certo, para que o outro possa pegá-la. Não existe adversário porque não há ninguém a ser derrotado. Aqui ou os dois ganham ou ninguém ganha. E ninguém fica feliz quando o outro erra - pois o que se deseja é que ninguém erre. O erro de um, no frescobol, é como ejaculação precoce: um acidente lamentável que não deveria ter acontecido, pois o gostoso mesmo é aquele ir e vir, ir e vir, ir e vir... E o que errou pede desculpas; e o que provocou o erro se sente culpado. Mas não tem importância: começa-se de novo este delicioso jogo em que ninguém marca pontos...
A bola: são as nossas fantasias, irrealidades, sonhos sob a forma de palavras. Conversar é ficar batendo sonho pra lá, sonho pra cá...
Mas há casais que jogam com os sonhos como se jogassem tênis. Ficam à espera do momento certo para a cortada. Camus anotava no seu diário pequenos fragmentos para os livros que pretendia escrever. Um deles, que se encontra nos Primeiros cadernos, é sobre este jogo de tênis:
‘Cena: o marido, a mulher, a galeria. O primeiro tem valor e gosta de brilhar. A segunda guarda silêncio, mas, com pequenas frases secas, destrói todos os propósitos do caro esposo. Desta forma marca constantemente a sua superioridade. O outro domina-se, mas sofre uma humilhação e é assim que nasce o ódio. Exemplo: com um sorriso: ‘Não se faça mais estúpido do que é, meu amigo\'. A galeria torce e sorri pouco à vontade. Ele cora, aproxima-se dela, beija-lhe a mão suspirando: ‘Tens razão, minha querida\'. A situação está salva e o ódio vai aumentando.’
Tênis é assim: recebe-se o sonho do outro para destruí-lo, arrebentá-lo, como bolha de sabão... O que se busca é ter razão e o que se ganha é o distanciamento. Aqui, quem ganha sempre perde.
Já no frescobol é diferente: o sonho do outro é um brinquedo que deve ser preservado, pois se sabe que, se é sonho, é coisa delicada, do coração. O bom ouvinte é aquele que, ao falar, abre espaços para que as bolhas de sabão do outro voem livres. Bola vai, bola vem - cresce o amor... Ninguém ganha para que os dois ganhem. E se deseja então que o outro viva sempre, eternamente, para que o jogo nunca tenha fim...
9 comments
Outro dia assiti uma entrevista de um médico na TV que comentou esse texto..bárbaro, não é? Adoro jogar frescobol, com certeza!
ResponderExcluirMil cheiros!
Oi Talita, é preciso ter sempre em mente o sentimento que existe e a necessidade do amadurecimento constante. Algumas vezes continuávamos a jogar nosso frescobol e de repente,eis que o cansaço e as responsabilidades extras sobrecarregaram e quase passamos a jogar tênis sem ao menos perceber. É preciso muita vigilância para que não se caia em armadilhas imperceptíveis, ainda bem que estamos sempre alertas. Bjs
ResponderExcluirArrepiada! Que crônica mais linda, faz muito sentido. Espero que assim como eu, meu perceiro, também esteja jogando frescobol!
ResponderExcluirQue lindo... já conhecia o pastor falou no casamento que fui sobre assim... disse mais que casamento nã é um contrato e sim uma alinça, dentre mil coisas maravilhosas e como a Andressa disse, espero que meu amor também esteja jogando frescobol como eu!!
ResponderExcluirUm grande beijo!
Amei o post. Concordo plenamente. Realmente casamento é responsabilidade para duas pessoas que enxergam diariamente os valores do outro. Amo o Rubem Alves, leio as crônicas dele na revista Bons Fluidos. Bjs
ResponderExcluirOI Talita!
ResponderExcluirTem selinho pra vc no pé na Lua Cabeça no chão.
http://penaluacabecanochao.blogspot.com/
BJO
Que bela comparação. Os padres e pastores deveriam ler, para motivar os casamentos. Acho que seria lição para muitos casais.
ResponderExcluirParabéns pelo seu casamento não ser um Tenis e sim Frscobol.
Com amizade Monica
Oi, Talita!
ResponderExcluirÉ bonita, graças a Deus percebo que meu casamento está mesmo para o frescobol (apesar de não saber jogá-lo na real como você...eheheehe).
Já no quesito conversa, comecei bem. Depois que conheci meu esposo na internet, foram 3 semanas intensas de gostosas e produtivas conversas, mas nada ligado a relacionamento homemXmulher. Era adorável falar de tudo com ele, de modo que penso que estamos preparados para envelhecer juntos. Assunto para conversas não vai faltar...eheheheh
Seu posto foi inspirador.
Parabéns!
Beijos
Menina, vc não ia acreditar. Eu havia lido isso há muitos anos e ontem usei como exemplo, mas não lembrava o autor..falei para minha prima, que vive em pé de guerra com o marido, parece que jogam tênis os dois. Vou mostrar o texto para eles e conversar. Amei a dica. Vou citar no meu blog. http://blogderodrigoemarcelle.blogspot.com
ResponderExcluirTemos o poder de escolher fazer com amor, todo dia! Por favor, entre em contato comigo através do canal YouTube.com/@talitacavalcante