Era pequena, miúda na altura e na finura. Era menina, criança. Era bastante interessada em observar seu entorno. Suas conclusões sobre o mundo, porém, vinham com tarja preta. Parecia à ela, àquela época, um mundo inacessível, proibido para ela. O impedimento levava nomes como timidez, baixa autoestima, outros também. O mundo estava lá, à sua vista, à sua mão, mas como dizer a ele, como comunicar-se com ele? Parecia impossível...
Bem, essa pequena menina cresceu. Já não sei se fui eu de verdade ou se a inventei. Passei a compreender o mundo, do meu canto, por minhas observações. Havia momentos de encantamento, outros de profunda decepção. Como contar sobre isso se a fala não ajudava, se a trava continuava?
Lia, lia e lia. E as leituras, em meio às observações possíveis do meu contexto, me levaram a escrever. A escrita, lembro-me bem, foi minha primeira grande amiga, companheira. Depois fui capaz de conquistar outras amizades, humanas e falantes, mas ainda poucas para minha necessidade de comunicar-me. Por isso a escrita tornou-se corriqueira, desejada. Em diários e em um computador emprestado, fora do horário comercial, Fugia para ele sempre que dava. Primeiro para aprender a digitar. Fui bem sucedida. Estudava sozinha naquele teclado, seguindo um curso de digitação cuja mídia era um daqueles disquetes grandes e flexíveis. Meus filhos, da geração dos tablets e smart phones, nem imaginam sobre aquela arcaica tecnologia, mas foi ali que aprendi. E como a tecnologia, foi dali que evoluí.
Depois de aprender a digitar, viciei em teclar. Escrevia peças de teatro e, como a maioria das crianças que tinham televisão regrada, me imaginava atuando em novelas. Mas na hora de brincar de teatro, com minhas peças escritas, eu não conseguia interpretá-las. Era melhor mesmo na invenção das histórias. Acabava dirigindo os amigos na execução das peças. Era o que eu gostava. Descobria-me aos poucos. Buscava por mim em meio às palavras que escolhia para um texto, em meio às palavras de uma leitura boa. Era bom ir me conhecendo. As palavras foram grandes responsáveis.
E não basta descobrir seu dom. Para mim, dom não era nada além de um interesse acentuado por algo, nada além de uma aptidão crua. Eu sabia que não bastava o dom, era preciso valorizá-lo, era preciso treiná-lo para crescer. Se a escrita era o meu dom, eu precisava torná-la uma vivência comum para mim. Fazia escondido. Não ganhava qualquer elogio sobre ela. Não mostrava, mas sentia-me ofendida quando, ao acaso, alguém importante a desvalorizava. Esse sentimento, buscava compreender: era paixão.
E como uma paixão bem sucedida, em amor se transformou. Menos apaixonada, pude direcionar minha escrita sem carregar preconceitos ou mágoas, pude dar a ela a pureza do amor que sentia pelas palavras.
Escrever com amor é chegar a um ponto do texto, olhar para trás ou para cima e perceber que, em segundos como esses gastos nesse texto, mergulhei em mim mesma para juntar palavras de uma forma que inebriasse minha alma. Alma, mesmo que não exista como interpretada por muitos, é palavra singular que muito pode definir e significar. Alma é palavra mágica, inacessível, intocada, como qualquer aprofundamento de nós mesmos, mas que traz em seu som, no que nos toca, algo bom, algo de um significado que precisamos e queremos conquistar.
Descobri-me escritora bem pequena, mas tal nome parecia ousado demais para alguém que não tinha quem lesse o que escrevia. Até hoje, escritores vários, criticam outros não publicados, por carregarem o nome da profissão tão especial. Mas não vejo que razão boba é essa que justifique tal vaidade se, independente de publicação, somos todos possíveis de sermos lidos, e, felizmente, de continuarmos, portanto, a escrevermos cada vez mais.
Sou escrevedora diária, sou escritora de alma, sou publicável, tenho a qualidade de quem não pára de aprender mais e mais a cada dia e palavra nova escrita, tenho a vaidade de qualquer pessoa que, solitariamente, põe palavras numa página em branco, permitindo-se virar o texto, ser o contexto, revelar-se em montanhas de linhas para pessoas desconhecidas, mas que se tornam parte principal do ofício, pois são o destino daquilo que produzimos. E se tem um sentido pra isso, acho que voltamos ao início: é o amor antigo pelas palavras que não apenas comunicam, mas transformam nosso modo de ver o mundo.
Talita Cavalcante (CLIQUE AQUI E CONHEÇA MEUS LIVROS)
Bem, essa pequena menina cresceu. Já não sei se fui eu de verdade ou se a inventei. Passei a compreender o mundo, do meu canto, por minhas observações. Havia momentos de encantamento, outros de profunda decepção. Como contar sobre isso se a fala não ajudava, se a trava continuava?
Lia, lia e lia. E as leituras, em meio às observações possíveis do meu contexto, me levaram a escrever. A escrita, lembro-me bem, foi minha primeira grande amiga, companheira. Depois fui capaz de conquistar outras amizades, humanas e falantes, mas ainda poucas para minha necessidade de comunicar-me. Por isso a escrita tornou-se corriqueira, desejada. Em diários e em um computador emprestado, fora do horário comercial, Fugia para ele sempre que dava. Primeiro para aprender a digitar. Fui bem sucedida. Estudava sozinha naquele teclado, seguindo um curso de digitação cuja mídia era um daqueles disquetes grandes e flexíveis. Meus filhos, da geração dos tablets e smart phones, nem imaginam sobre aquela arcaica tecnologia, mas foi ali que aprendi. E como a tecnologia, foi dali que evoluí.
Depois de aprender a digitar, viciei em teclar. Escrevia peças de teatro e, como a maioria das crianças que tinham televisão regrada, me imaginava atuando em novelas. Mas na hora de brincar de teatro, com minhas peças escritas, eu não conseguia interpretá-las. Era melhor mesmo na invenção das histórias. Acabava dirigindo os amigos na execução das peças. Era o que eu gostava. Descobria-me aos poucos. Buscava por mim em meio às palavras que escolhia para um texto, em meio às palavras de uma leitura boa. Era bom ir me conhecendo. As palavras foram grandes responsáveis.
E não basta descobrir seu dom. Para mim, dom não era nada além de um interesse acentuado por algo, nada além de uma aptidão crua. Eu sabia que não bastava o dom, era preciso valorizá-lo, era preciso treiná-lo para crescer. Se a escrita era o meu dom, eu precisava torná-la uma vivência comum para mim. Fazia escondido. Não ganhava qualquer elogio sobre ela. Não mostrava, mas sentia-me ofendida quando, ao acaso, alguém importante a desvalorizava. Esse sentimento, buscava compreender: era paixão.
E como uma paixão bem sucedida, em amor se transformou. Menos apaixonada, pude direcionar minha escrita sem carregar preconceitos ou mágoas, pude dar a ela a pureza do amor que sentia pelas palavras.
Escrever com amor é chegar a um ponto do texto, olhar para trás ou para cima e perceber que, em segundos como esses gastos nesse texto, mergulhei em mim mesma para juntar palavras de uma forma que inebriasse minha alma. Alma, mesmo que não exista como interpretada por muitos, é palavra singular que muito pode definir e significar. Alma é palavra mágica, inacessível, intocada, como qualquer aprofundamento de nós mesmos, mas que traz em seu som, no que nos toca, algo bom, algo de um significado que precisamos e queremos conquistar.
Descobri-me escritora bem pequena, mas tal nome parecia ousado demais para alguém que não tinha quem lesse o que escrevia. Até hoje, escritores vários, criticam outros não publicados, por carregarem o nome da profissão tão especial. Mas não vejo que razão boba é essa que justifique tal vaidade se, independente de publicação, somos todos possíveis de sermos lidos, e, felizmente, de continuarmos, portanto, a escrevermos cada vez mais.
Sou escrevedora diária, sou escritora de alma, sou publicável, tenho a qualidade de quem não pára de aprender mais e mais a cada dia e palavra nova escrita, tenho a vaidade de qualquer pessoa que, solitariamente, põe palavras numa página em branco, permitindo-se virar o texto, ser o contexto, revelar-se em montanhas de linhas para pessoas desconhecidas, mas que se tornam parte principal do ofício, pois são o destino daquilo que produzimos. E se tem um sentido pra isso, acho que voltamos ao início: é o amor antigo pelas palavras que não apenas comunicam, mas transformam nosso modo de ver o mundo.
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