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Somos todos fúteis?

by - fevereiro 16, 2017

Nessa seção do blog, a pergunta é o ponto de partida. Para praticarmos a filosofia, perguntamos!



E, então? Somos todos fúteis?

O que é, afinal, a futilidade?

No dicionário, futilidade é o "caráter de quem dá muita importância ao que é insignificante ou inútil".

Mas cabe a nós também identificarmos o que é inútil ou insignificante. O que é um ser superficial? Essa está mais fácil de respondermos. A pessoa superficial é aquela que não se aprofunda em nada realmente relevante, não é mesmo? É aquela que vive basicamente de insignificâncias, coisas que 'parecem' dar-lhe alegrias, mas que em nada auxiliam sua vida, sendo apenas vícios. E um vício pode impedir-nos de aprendermos com nosso entorno, pode nos tornar tão insignificantes quanto os objetos do nosso interesse. Tornamo-nos fúteis nesse instante.

E a futilidade pode estar em todos nós, em níveis diferentes, com características diferentes. E também acredito que a futilidade possa ganhar determinações diferentes de acordo com o espaço de tempo e geográfico em que se vive, pois pensemos bem sobre guerras, por exemplo. Muitos que vivem hoje também viveram a II Guerra Mundial. E, por mais que não queiramos acreditar, muitos vivem a guerra nos dias de hoje.

Viver em conflitos que colocam sua vida e de sua família em risco todos os dias muda tudo. Se em tempos e locais mais pacíficos vivemos preocupados em melhorarmos o conforto dos nossos lares, que valem móveis, eletrônicos e camas mais confortáveis para quem sequer possui a tranquilidade de curtir o próprio lar?

Portanto se, nesse momento, lá na Síria, morrem pessoas em conflitos, sentimo-nos fúteis em estarmos preocupados em comprar pijamas confortáveis para nossas noites em que não passamos ouvindo bombardeios. Sentimo-nos fúteis por querermos trocar uma cadeira que já possuímos por outra mais confortável. Sentimo-nos fúteis por querermos expôr uma foto de nós mesmos 'bem produzidos' para uma festa.

Gosto de citar Natalia Ginzburg quando toco nesse assunto. Ela foi escritora, morreu em 1991, e viveu a Segunda Guerra Mundial:

"Temos de novo um espelho entre quatro paredes, quem sabe daqui a pouco tenhamos de novo um tapete, talvez uma luminária. Mas perdemos as pessoas mais queridas: então, que nos importam a essa altura os tapetes e as pantufas vermelhas? (...)" - Trecho do texto 'As pequenas virtudes' presente no livro de mesmo nome (super indico, pois é lindo...).

Os contextos determinam certas futilidades. E o nosso maior cuidado deve ser na intensidade dos nossos interesses fúteis. Entendendo já por fútil aquilo que extrapola as necessidades do nosso momento, que não acrescenta conteúdo novo às nossas vidas e que, por vezes, até dificulte atividades mais úteis no nosso contexto.

Se o nosso contexto é a guerra, preocuparmo-nos mais com o estado dos móveis em nossa casa à achar um abrigo realmente bom para proteger nossa vida e da nossa família, seremos fúteis.

Se o nosso contexto é um contexto tranquilo, preocuparmos em dar um conforto e diversão em nossos lares à nossa família, já não vemos como futilidade, a não ser, claro, que a pessoa preze mais por seu sofá branco que pela alegria de ver seu filho relaxando com os pezinhos sujos sobre ele. Por isso, há uma linha tênue que nos separa da futilidade a todo instante.

A intensidade do amor pelas coisas, pelas roupas, pela arrumação, pela limpeza da casa, pela imagem produzida de si mesmo pode sim ultrapassar o nível do necessário, do útil, para o nível do vício, da futilidade.

O que vale mais na vida? A coisa em si ou as pessoas que podem dar utilidade às coisas? Se o nível de estresse e de importância que damos a certas coisas está provocando impedimentos de momentos mais felizes, mais interessantes, com assuntos mais profundos e diversos (existem aqueles que só conversam sobre o mesmo assunto, já reparou?), bem... Nesses casos, o alerta da futilidade deve ser compreendido. É assim que melhoramos, é assim que nos deixamos aprender com a vida, dando mais utilidade às coisas, fazendo acontecer, produzindo novidades, transmitindo conhecimento, evoluindo nossos pensamentos, abandonando preconceitos e sendo pessoas menos fúteis e mais úteis a cada dia.

É muito provável que nunca tenhamos a resposta certa para todas as perguntas que fazemos e, por isso mesmo, a conversa é boa. Ela pode continuar nos comentários...

E, então? O que você acha disso? Somos todos fúteis?








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