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Empregadores e empregados domésticos no Brasil

by - setembro 21, 2017


Para refletirmos: O que ainda precisa melhorar na profissão do empregado doméstico?

Lembro-me bem de todo o contexto de empregados domésticos da época em que eu era criança. Em minha própria casa, na casa dos meus amigos. E algo lá atrás já me incomodava: havia muitas empregadas domésticas que moravam com os patrões, longe de suas famílias. Lembro-me de fazer perguntas inconvenientes daquelas que ninguém, nem os empregados, nem os patrões tinham facilidade em responder.
"Por que você veio trabalhar tão longe da sua casa?"
"Mas você não têm família?"
"Quanto vocês pagam pra ela trabalhar o dia inteiro?"
"Ela já tem idade pra se aposentar. Por que ela continua trabalhando pra vocês?"

Incomodava-me o fato dos empregados domésticos não poderem voltar pra casa (para seus filhos) antes de terminarem todo o serviço da casa. Anoitecia e no lugar de o empregado estar em casa fazendo o jantar para sua família, permanecia na casa dos patrões fazendo o jantar deles.
Incomodava-me mais ainda alguns casos em particular, em que eu ficava sabendo que a pessoa que eu via fazer todo o serviço doméstico da casa, não recebia um salário. De vez em quando recebia um 'presentinho', mas como os patrões gostavam de dizer que estavam 'criando' aquela pessoa, 'como se fosse sua filha', diziam, parecia que isso eliminava o direito dela a um salário. Essas pessoas 'criadas' por certas famílias que eram de várias classes sociais diferentes, nunca foram 'adotadas', mas mesmo assim ouvíamos alguns patrões chamando-as de filhas (mas apenas em momentos convenientes, como naqueles em que eles achavam que um Deus ouvia-os). Filhas para a labuta, filhas para ingleses verem; filhas que nunca tiveram direitos de filhas, nem direitos de empregadas, porém dessa última classificação, tinham todas as obrigações, mas sem remuneração, pois afinal, recebiam teto, comida e uma família pra chamarem de sua.

Essas memórias da minha infância datam dos anos 90, não muito atrás na história.
Desde sempre os empregados domésticos no Brasil foram desconsiderados em direitos trabalhistas básicos (como assim não havia um limite de horas de trabalho, alguém me explica tal crueldade?), sem falar na falta de formas de amparar o empregado doméstico em momentos de maus tratos.

Muita coisa já melhorou, mas infelizmente esse passado ainda existe em números significativos no nosso presente.

Como escreveu Millor Fernandes, "O Brasil tem um enorme passado pela frente" e eu acho que precisamos muito discutir sempre assuntos como esses, na esperança de mudarmos de verdade o que está adiante, evoluindo todos nós juntos, com reflexões que nos engrandeçam com justiça, bondade e coerência. 

A mim, continua incomodando o fato de que muitos empregadores não sentem vergonha de reclamações ridículas que fazem de seus empregados (e ainda saber que muitos gastam com bolsas caras, mas não pagam a hora extra do empregado). Bastava se colocarem no lugar do outro uma vez que seja, sentindo na pele a dor de exigências tão fúteis e da diferença de forças. Já vi muita coisa vergonhosa antes e o mais triste é que ainda continuo presenciando.

Pensando nisso e para refletirmos com responsabilidade a respeito, convidei para o episódio de número #14, do podcast Dona Perfeitinha Cast, Lilian Soares, hoje empregada doméstica, para uma conversa a respeito. A gente cresce junto quando conhece a visão de mundo do outro. Passa lá no site do nosso Podcast para ouvir... CLICA AQUI.



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