Fazer o que a gente ama fazer ou amar o que a gente faz?
A pergunta que me leva a escrever esse texto hoje já foi muito discutida e talvez já te desinteresse de imediato. É um risco pra mim continuar a teclar daqui e um risco maior ainda pra você continuar a ler daí. Esse risco tem nome: chama-se perda de tempo.
Pra muitas pessoas basta ligar o 'foda-se' e... foda-se! Mas o tempo passa. E, por isso mesmo, estamos sempre muito preocupados em 'não perdermos tempo'.
Como já escreveu Mário Quintana,:
"... A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são seis horas!
Quando se vê, já é sexta-feira!
Quando se vê, já é Natal...
Quando se vê, já terminou o ano...
Quando se vê, perdemos o amor da nossa vida.
Quando se vê passaram 50 anos!..."
Ligar o foda-se pode ser perigoso portanto... É preciso encararmos nossas insatisfações, mas mais ainda, o motivo delas. No lugar de mudar nosso entorno, nossa profissão, por vezes a tentativa de mudar nossas inquietações interiores pode sim ser uma boa opção. Mas, para isso, precisamos nos conhecer, nos questionar. Fazer perguntas para nós mesmos que podem doer. Tem gente que reclama de trabalhar muito cedo, muda de turno, mas continua chegando atrasado. Nesse caso, com toda certeza, a pessoa mal sabe o que realmente a impede de estar satisfeita com o trabalho.
E o tempo passa. E a insatisfação passa a dominar toda a vida da pessoa. Ela é bem aquela que a gente encontra e que só abre a boca para reclamar. Os anos passam e as reclamações continuam e continuam iguais! Conhece alguém assim?
Nitidamente, pessoas assim não usam de seu tempo para o autoconhecimento. Nunca se perguntam como não perder tempo de vida reclamando. Ainda mais se for para perguntarem a si mesmas como ganhar tempo.
Mas como é que 'ganhamos tempo'?
Na minha ideia da coisa, ganho tempo quando meu tempo é gasto com atividades que me deixam satisfeita. Se estou satisfeita, estou aproveitando melhor meu tempo, produzindo com qualidade e aprendendo sobre coisas realmente relevantes para minha vida. Mas o que isso tem a ver com fazer o que amamos ou amar o que fazemos?
É impressionante quantas pessoas 'perdem' tempo ao sonharem com o emprego perfeito, a profissão dos seus sonhos, aquela em que se faz o que se ama. E reclamando do atual emprego, vendo o lado ruim de tudo e deixando o tempo passar assim mesmo. Com essa demanda toda, há inúmeros escritores de autoajuda contando suas histórias incríveis de mudanças de emprego, de pedidos de demissão para virarem donos do seu 'sonhado negócio próprio'. E é legal sabermos que podemos mesmo mudar a todo momento, que podemos sim jogar tudo para o alto quando estamos insatisfeitos e começar do zero. Porém, infelizmente, quem pode contar histórias fascinantes assim é minoria dentre os tantos que se deram muito, muito mal. Mais da metade das empresas que são abertas no Brasil, fecham antes de completarem seu segundo ano de funcionamento. Acho ótimo tentar fazer o que se ama, mas será mesmo que esse amor é duradouro ou será que a inquietação interior não vai enjoar do novo trabalho também? Será que estamos nos fazendo as perguntas certas? Será que queremos mesmo um trabalho para o qual dedicarmos nossa energia ou apenas queremos vida boa e pouco suor?
E será mesmo que sabemos o que amamos fazer? Ou essa ideia é apenas uma ilusão? Defendo que nos iludimos mais do que realmente compreendemos sobre o que mexe com a gente, sobre o que nos faz levantar cheios de energia pela manhã.
Na minha simples observação que faço da vida, percebo que é mais fácil pra todos nós cultivarmos uma ilusão sobre o que realmente poderia nos trazer felicidade na profissão do que realmente fazer da nossa profissão, independente se ela é ou não o que sonhávamos que fosse, algo que valorizamos, nos dedicamos, passamos a amar. Pelo menos hoje. Que não seja pra vida inteira, mas hoje. Se faço algo hoje, até que eu tenha certeza do que quero para amanhã, o mínimo que posso fazer agora é me dedicar totalmente a esse meu trabalho, é permitir-me transformá-lo à minha maneira, para quem sabe, ele tenha mais a minha cara e eu mais a cara dele.
No final das contas, tudo é uma questão de entender a nós mesmos e fazer o melhor possível HOJE. Escolher reclamar e vivenciar diariamente nossas insatisfações é uma opção, mas, no meu entender, muito ruim apesar de muitos seguirem por ela.
Nunca fui boa de metáforas. Meu marido é. Meus filhos são. Então, por serem eles tão bons, talvez todas as minhas pareçam-me pobres, mas preciso usar da que se segue para que você me dê mais uma chance para chegarmos juntos ao final desse texto:
Amar o que a gente faz é como aprender a comer legumes e a pedir por mais.
Sim! Amar nosso trabalho vem depois dos lamentos, da rejeição, do sofrimento por ter de 'engoli-lo' até que consigamos arrumar 'algo melhor'.
Quantas pessoas já desistiram de empregos que poderiam ter-lhes sido promissores porque não aguentaram algum tipo de sofrimento inicial?
Não estou dizendo aqui que devemos 'aceitar' o que não é legal ou moral, mas apenas aqueles sofrimentos advindos de um sentimento de 'inadequação' do sonho, dessa insatisfação da qual já falamos. Eu queria estar comendo Mac Donald's, mas escolho comer brócolis. Eu não suporto cheiro de banana, mas me esforço para amassá-la e dar para meu filho comer. Quantos sentimentos de 'inadequação'! Mas sempre há uma escolha boa em meio a elas e motivos bons para manter algumas delas em nossas vidas.
Já fui atendida por caixas de supermercado mal humoradas. Penso que talvez 'não gostem de gente'. Inadequação?
Já fui atendida por garçom que não sabia nada sobre os pratos do cardápio. Inadequação?
Já fui atendida por médico que sequer olhou para minha cara. Inadequação?
Já fui aluna de professor que bebia vodka durante as aulas. Inadequação?
Parece um cenário de gente infeliz. Gente infeliz que perde tempo de vida. Perde oportunidades de interação. De troca de aprendizados. De fazer diferença positiva. De interessar-se pelo que precisa para fazer o que faz.
No final das contas, não importa muito fazer o que a gente ama ou amar o que a gente faz. O que importa é perceber que uma coisa pode se transformar na outra desde que usemos o tempo a nosso favor:
- Se estamos sentindo dificuldades, precisamos nos questionar para conhecer exatamente quais são essas dificuldades.
- Sabendo delas, devemos encarar as verdades: sempre somos responsáveis por enxergar as coisas da maneira como são e por provocar essas situações.
- Assumindo a responsabilidade por nossas insatisfações, podemos agir para mudar tudo! E tudo mesmo! Agir diferente. Que seja forçando um sorriso. Sabe quando mastigamos algo com sabor diferente que a ideia inicial seria dizer que é ruim, mas insistimos e engolimos, nos forçando a não fazermos cara feia? Bem isso o que estou falando aqui! Fazendo isso, dia a dia, passaremos a levantar um sorriso sincero ao 'mastigar' esse alimento num futuro próximo. Foi assim que meu filho passou a amar tomate.
E se podemos ensinar nossa cabeça a gostar de um alimento que quisemos inicialmente rejeitar, podemos ensinar nossa cabeça a amar nosso trabalho qualquer, qualquer trabalho. E, num futuro próximo, estarmos tão transformados por nosso trabalho e nosso trabalho por nós, que o tempo mostrará sua graça: resultados positivos para a vida, para nossa felicidade!
E tudo trata-se de mudanças para nos 'adequarmos'. Tem gente que acha que só vai se adequar ao mudar de trabalho. Já eu acho que a maioria das pessoas assim muda de trabalho e continua insatisfeita. A adequação tem que partir do nosso interior. Podemos sim chegar à resposta de que é mesmo melhor mudar tudo no nosso entorno, pedir demissão ou desistir da nossa empresa, mas isso só deve acontecer depois de entendermos exatamente de onde provêm nossas inquietações. Dessa forma, há muito mais chances de darmos nosso suor e sermos bem sucedidos para enfim entendermos o que é 'satisfação'. Mas lembremo-nos sempre que nossas insatisfações devem ser encaradas de forma positiva. Elas devem ser o 'start' para que ajamos! Precisamos delas para nunca nos acomodarmos. Comodidade e satisfação em excesso também geram perda de tempo.
Então, da próxima vez que começar a sonhar com um outro emprego ilusão, torne o emprego atual o melhor do tempo presente, faça diferente, pense sobre ele sobre outras perspectiva, dê a ele todas as chances possíveis e, então, no futuro, faça o que quiser, desde que continue a ensinar-se a amar o que faz. Dessa forma você não perderá mais tempo. Se se decidir por mudar mesmo de profissão terá a coragem e as razões certas para isso.
Eu ainda quero te dizer outra coisa: amei ter digitado todas essas palavras. Mas não sei se escrevo porque amo ou amo porque escrevo. Mas amo. E, para não 'sentir' que perco tempo, continuarei amando. Meta de trabalho! Dizem que é assim que o sucesso aparece e a gente nem percebe... Pensa comigo: ele não deve fazer muita diferença quando já amamos o que a gente faz, não é?
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