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Liberdade - A incoerência das pessoas quando o tema é polêmico - Vamos falar da descriminalização do aborto

by - setembro 08, 2018



Quando eu ainda usava as redes sociais, criei o hábito de ler comentários em postagens polêmicas, especialmente daquelas feitas por celebridades.

E o que mais me interessava nesses comentários era descobrir incoerências, pois tenho grande interesse nas atitudes dos seres humanos, incluindo as minhas próprias sobre as quais sempre reflito.

Uma vez, em uma postagem de uma atriz, no Instagram, em apoio à liberdade de escolha das mulheres em abortarem ou não, chamou minha atenção um comentário horrendo, com uso de palavras baixas, em tentativa de ofendê-la. Acessei o perfil da pessoa, no caso um homem, como é a maioria dos que vão contra esse projeto de lei que tenta descriminalizar o aborto no Brasil e li em sua descrição a seguinte frase: 'Liberdade acima de tudo.'

Quanta incoerência! Quanta falta de reflexão!
Mas é comum isso, especialmente em pessoas que são bastante egocêntricas. Ele, muito provavelmente, ao escrever tal frase, imaginou unicamente a si mesmo em liberdade, não estendendo-a a mais ninguém!

Existe uma nítida dificuldade das pessoas em serem coerentes na vida. E todas essas incoerências esbarram, normalmente, quando a questão é a liberdade de escolha e atitudes de outras pessoas, mas nunca de si mesmos e de sua realidade. Sempre ouço pessoas criticando a corrupção dos políticos no Brasil. E sempre há entre essas pessoas alguém que tem atitudes corruptas. Médicos que sonegam impostos; pessoas que emplacam seus carros (caros) em estado em que não residem, mentindo seu endereço para terem redução de impostos; pessoas que querem levar 'vantagens' sobre concorrentes e clientes, com atitudes duvidosas; igrejas que podem arrecadar muito dinheiro e não retribuir com nenhum imposto, nem mesmo IPTU ou IPVA, para a sociedade (precisamos mudar essa questão dos impostos de igrejas, não acha?). Mas as incoerências em atitudes e discursos são inúmeras e vão além da questão financeira. Pessoas muito religiosas que traem o parceiro; mães e pais motoristas que não param o carro antes da faixa de pedestre para pessoas atravessarem com segurança; pessoas estudadas e instruídas que gastam excessos de água e jogam lixo na rua. O mais grave é que sempre há um auto indulto. Perdoam a si mesmos por todas essas atitudes com justificativas ridículas que concedem liberdade a si mesmos de não seguirem o que é esperado de todos. Eles sempre se encaixam em alguma exceção 'aceitável', mas 'aceitável' apenas do 'ponto de vista' deles. E seguem agindo igual, sem refletirem um palmo além de seus narizes, por toda a vida...

Mas claro que há quem quer ser uma pessoa melhor. Há quem quer mesmo que o país avance, que as pessoas sejam mais instruídas e tenham atitudes mais coerentes, refletindo e aprendendo com seus próprios erros.

Voltemos então a questão do aborto.
O projeto de lei propõe a descriminalização, ou seja, que pessoas pobres que arriscam suas vidas (e muitas vezes morrem) não sejam presas juntamente a quem as ajudou a 'tentarem ou a abortarem'.
E isso não é negativo. Essa lei pode salvar muitas vidas. Mas ninguém quer enxergar isso, pois aprenderam que abortar é errado e, se é errado, melhor que continuem morrendo e sendo presas todas as mulheres pobres desesperadas.
As ricas também abortam, mas raramente serão presas ou serão presos os médicos que as ajudaram e muito menos morrerão em consequência do ato. Elas têm dinheiro, procuram e continuarão procurando os médicos certos, fazendo o procedimento no tempo certo, com o método mais seguro existente, com poucas chances de serem denunciadas ou 'descobertas'.

Eu sou contra o aborto. Mas claro que sou a favor da legalização do mesmo. Porque há uma coisa que não vai mudar: a mulher que decide abortar, ela vai abortar sendo crime ou não sendo crime.

Mas as pessoas querem fingir que isso não existe, que menos pessoas abortam por ser crime. Isso não é verdade. Sendo crime, o que acontece é que mais mulheres pobres morrem e são presas pelo ato. E somente as pobres, repito. Isso é óbvio, injusto e claro! A lei de descriminalização servirá para salvar essas vidas, apenas isso. A descriminalização não fomentará mais abortos. 

As mulheres não querem ter que abortar. Elas fazem isso em casos de desespero, por inúmeras razões PESSOAIS.

Liberdade é poder ESCOLHER por si. Suas ações e suas consequências. Há quem se espante, por exemplo, com o suicídio, mas quando seus pais ficam idosos, passa a retirar-lhes todas as escolhas. Tiram-lhe o carro que ainda sabem que podem dirigir, tiram-lhe a liberdade em casa, colocando uma pessoa estranha para ajudar-lhes em atividades que eles ainda conseguem fazer sozinhos. Eles se sentem ofendidos, desmotivados a viverem nessas condições impostas, não requisitadas por eles. As pessoas não entendem que se alguém foi responsável a vida inteira, não será idoso que deixará de ser. O idoso perceberá o momento certo de decidir por si quando precisará de ajuda para alguma atividade, perceberá quando não consegue mais dirigir, quando estiver precisando de companhia frequente. Ele mesmo decidirá e no tempo certo. Não é o filho quem 'sabe' qual é o momento certo. É impossível que um filho 'saiba', mas apenas o idoso que vivencia a sua realidade. Precisamos ter liberdade sempre e criar nossos filhos para que respeitem a liberdade de escolha do outro, incluindo a nossa quando formos idosos.

Por todas essas razões, o problema do aborto esbarra nessa questão de respeitar a liberdade do outro.
É como a legalização da maconha, por exemplo. Já se sabe que essa guerra já está perdida. Se a pessoa quer se drogar e destruir sua própria vida, é uma escolha dela. De novo, acontece o mesmo aqui: o drogado, vai continuar se drogando. E vai preso apenas aqueles pobres coitados que não têm como evitar a prisão.

E prisão custa muito dinheiro aos cofres públicos. Temos que saber disso! E precisamos investir mais dinheiro em conhecimento e educação para termos uma população mais bem informada e com escolhas mais acertadas. E se for pra gastar dinheiro com prisões que sejam com aquelas que realmente ajudam a ganharmos a guerra travada e não com prisões que não mudam nada.

Volto então a falar do aborto.
O que podemos FAZER MELHOR a respeito? Podemos deixar de gastar com essas prisões e investir em informações que cultivem bons valores na sociedade, por exemplo.
Educarmos melhor nossas crianças na escola, incluindo a educação sexual adequada que ajude-os a aprenderem a cuidarem melhor de si mesmos, a viverem com menos riscos de doenças o com menos risco de gravidezes indesejadas, aprendendo a fazer melhores escolhas evitando assim uma vida de sofrimentos, tudo isso faz com que criemos nas nossas crianças a CONSCIÊNCIA DE BONS VALORES.

É essa luta que podemos ganhar! É essa luta que pode reduzir o número de pessoas que se drogam ou que abortam. É nisso que devemos focar e investir mais o dinheiro público.

Vamos falar de valor.
Você sabe o que são valores?

Valores são tudo aquilo que 'acreditamos' serem importantes para nós. E é dentro dessas 'crenças' que devemos trabalhar o foco da educação dos brasileiros.

Liberdade é um valor. Se para a pessoa que fez o tal comentário horrendo no perfil da Nathália Dill realmente tivesse a 'Liberdade acima de tudo' como um valor, ele não seria contra a descriminalização do aborto.

É preciso entendermos bem nossos próprios valores para que possamos vivenciá-los. Se um idoso tem a liberdade como valor pessoal, não vivenciá-la a partir do momento em que os filhos 'acham' que precisam decidir por ele, ele se transformará, claro, numa pessoa insatisfeita com a vida, com a sensação de que falta algo, inquieto. Afinal... ele não estará vivendo um dos seus valores. Não é incomum um suicídio quando uma pessoa não vive seus valores. O tal do 'vazio', do sentimento de 'inadequação', vêm da falta da vivência dos nossos valores, a falta de vivenciar as coisas que são importantes para a gente. Se não as vivenciamos, onde encontrar forças?

Para sermos coerentes e respeitarmos nossa vida e a vida de quem amamos, precisamos estar seguindo nossos valores e nunca impôr o que o outro deve ou não deve fazer. Cada um deve escolher por si.

Faz muito sentido investirmos mais em educação e campanhas que fomentem 'bons valores' ao brasileiro. E não faz sentido algum fecharmos os olhos para os evidentes problemas que já temos como realidade, apenas porque achamos que sabemos mais que outras pessoas e sequer queremos olhar melhor, buscando compreender a realidade do outro, ou seja, fora do contexto do nosso umbigo, fazendo com que, dessa maneira, tudo continue como está, mesmo que mais pessoas morram e mais dinheiro público seja gasto em vão.

Há brasileiros com muitos valores ruins como vimos nos exemplos no início desse texto. E a educação pode mudar isso! Essa guerra será ganha se resolvermos travá-la. Mas para ela é preciso consciência do nosso papel como cidadãos que têm o poder de votar em pessoas com bons ou maus valores. 

Queremos administradores que saibam travar as guerras certas para nosso país, para melhorar os valores da nossa população.

Se criamos em grande parte das pessoas o valor de cuidar bem da própria vida com liberdade de escolha, aprendemos a agir de maneira consciente com esse valor. Uma mulher que tem esse valor raramente terá (a não ser se coagida, estuprada ou por um 'incidente') uma gravidez indesejada. Ela nunca precisará desse terrível ato que é o aborto, caso seja importante para si cuidar bem de sua vida, sendo essa bem 'informada' e tendo condições de segurança por parte do Estado para viver bem.

É por isso que acho tão incoerente as pessoas serem contra a legalização do aborto quando defendem a liberdade.

A liberdade deve ser defendida e vivenciada. Esse é um bom valor.

E devemos querer muitos outros bons valores em nossas vidas. E lutarmos para que todos respeitem a nossa escolha de vivenciá-los!



Saiba que todo sábado, sai textos como esse aqui no blog. Essa é minha coluna semanal e espero que possamos refletir juntos. Sua colaboração com comentários é muito bem-vinda! 
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Lembre-se que ninguém está salvo de cometer erros. O importante é podermos discutir ideias, opiniões e tocarmos em assuntos importantes para que possamos aprender e evoluir JUNTOS! Só não muda de ideia quem não quer ser uma pessoa melhor! 















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4 comments

  1. Acho interessante que a legalização do aborto seja colocada como benefício para as mulheres pobres... também seria interessante uma pesquisa perguntando para essas mulheres pobres se preferem que o orçamento (limitado) do Estado à saúde seja investido, para cuidados com seus filhos, quando ficarem doentes, ou seus pais, idosos que precisam de cuidados, ou destinados, ainda que parcialmente, a mulheres que optaram por abortar. Muitas pessoas que defendem ser este um direito "da mulher pobre" não utiliza do SUS, quando então saberiam que o Sistema público de saúde tem inúmeras outras prioridades, mais urgentes até, de pacientes aguardando exames, próteses, materiais para que sejam realizados atendimentos e cirurgias. Também seria interessante a divulgação de que já há fornecimento gratuito de preservativos (inclusive em escolas públicas), anticoncepcionais, DIO e cirurgias como vasectomia, na rede pública, todas medidas acessíveis e que não dependem do assassinato de outra vida. Será que legalizar a irresponsabilidade do homem e da mulher, já que não é surpresa nenhuma que o resultado de uma relação sexual é o de gerar outro ser vivo, é a melhor opção, para "evitar que mulheres pobres morram ou sejam incriminadas" (embora seus filhos abortados não tenham essa mesma sorte...)? Enfim... acredito que a discussão seja muito mais complexa, e mais profunda do que se imagina.

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    1. Oi, Thalita... A partir do momento que há a 'crença' de que há ali um assassinato, não tem como discutir nada. Continua como está. Mas infelizmente a crença faz que se queira que essas mulheres sejam taxadas como assassinas e com que se feche os olhos para a realidade: continuam abortando pobres e ricas, mas apenas as primeiras continuarão morrendo e presas. Fechar os olhos pra isso é mais fácil. Pelo menos, parece que o que se quer é que continue 'crime' tal ato e que continue tudo como está, pois assim todos que têm essa crença estão com consciência tranquila e pouco querem se envolver com a realidade do que realmente se passa, afinal o argumento é um só: há como prevenir. Essa questão da prevenção é que é mais complexa e é nela que devemos mesmo, como você nos alerta, investir mais, com uma ótima educação sexual pra todos. Mas o que se discute aqui não é escolher entre um tratamento e outro (queremos ter direito à saúde como um todo). O que se discute aqui é salvar vidas. No lugar de morrerem dois, morre um. Mas os crentes continuam preferindo a morte de dois, como compensação pelo assassinato. Parece que é isso. Basta continuar crime o aborto que eles continuarão felizes. Não importa pra eles o que a ciência diz, não importa pra eles nada além do seu próprio mundinho particular e se acontece com um filho são capazes de rejeitá-lo ou coisas piores como vemos todos os dias por aí. O que é complexo é a falta de reflexão das pessoas que não praticam verdadeiramente o amor ao próximo.

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  2. Outro ponto que me chamou a atenção no seu texto foi com relação às igrejas. Em qual ponto de vista se pode julgar se a igreja ajuda ou não em nada à sociedade? Sob o ponto de vista de alguém que não frequenta? De alguém que tem preconceito? De alguém que não conhece o que lá é feito e critica pelo que "ouviu falar"? Interessante... porque só de uma igreja existir, ainda que não realize nenhum trabalho considerado "social" de maneira visível, como fornecimento de comidas para pessoas sem lar, etc, é um local de reunião pacífica, onde se propaga a paz, o amor, o respeito ao próximo (ainda que diferente), onde se preza pela família, pelo cuidado com os filhos, pela comunhão, pela união, onde se acolhe o rejeitado, o esquecido, o abandonado, o desprezado, dentre outros. Com a propagação desses valores, sim, conforme se falou no texto, se obtém a diminuição da violência doméstica na sociedade, bem como da criminalidade, e ajuda na formação de cidadãos pacíficos, que respeitam a cidade e seus habitantes... enfim, não vejo como tudo isso seja fazer "nada" para a sociedade... talvez seja um olhar de quem não conhece o papel e intenso trabalho que, diga-se de passagem, é voluntário, das igrejas, já que compostas de muitas pessoas, e não apenas de pastores. Não conhecendo esses pontos, realmente é compreensível como um olhar de fora possa concluir sim que deve haver mudança quanto aos impostos das igrejas, claro, porque infelizmente ou não conhece os benefícios de uma entidade dessas na sociedade, ou teve a infelicidade de só conhecer o lado podre desse segmento, o qual, vale dizer, existe em todos os grupos sociais, profissionais, políticos, etc, sendo um erro, e um preconceito, a generalização.

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    1. Sim! As igrejas são locais onde as pessoas se solidarizam e buscam por algo de que precisam. Há inúmeros trabalhos lindos feitos pelas igrejas e elas devem ter essa meta em primeiro lugar, pois não é a razão de serem? Quando digo sobre 'retribuir' para a sociedade, estou falando do 'lucro', do que não é gasto com suas atividades fins. Estou falando de imposto sobre o 'lucro', sobre o que vai para bolsos particulares. Você já se perguntou quanto dinheiro é arrecadado por cada uma delas e pra onde vai todo ele? Você sabe me responder o porquê (todas as razões, não apenas as bem pontuadas por você acima) de mais e mais igrejas abrirem por todas as cidades? São questões importantes e fáceis de descobrir. Sabe-se de diversas ocorrências policiais de malas de dinheiro de igreja não declarado ganhando destinos no exterior. Mas há muitos mais casos que nem se tem notícia...
      Quando estamos presos a qualquer crença, às vezes fica difícil pensar questões que possam de alguma maneira afetá-la. Quem nos dera todos os seres humanos serem amor e compaixão. A própria igreja que á amorosa e quer o bem da sociedade vai ficar feliz em pagar os impostos em prol de uma melhor educação, uma melhor saúde, um melhor país para todos e não apenas para sua comunidade.

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